Detalhe
O Terramoto de 1 de Novembro de 1755

Às vésperas do terramoto de 1755 a imagem de Lisboa era a de uma cidade muito populosa (c. de 200.000 habitantes) e densamente urbanizada (c. 20.000 edifícios). Era também uma cidade opulenta, o que seria menos visível na magnificência exterior dos edifícios, mas mais ostensiva no interior de palácios e templos ricamente decorados com peças de arte, mobiliário de madeiras e tecidos preciosos, jóias, porcelanas e tapeçarias.
A malha urbana, por vezes labiríntica de ruas estreitas e largos ocasionais, intercalava grandes edifícios – igrejas, conventos, palácios e instituições – com edifícios de habitação, muito comuns os de fachadas em bico e andares de ressalto tipicamente medievais, com alturas médias de três a quatro pisos assobradados.
Chegado o sábado dia 1 de novembro de 1755, dia de Todos os Santos, as igrejas estavam cheias de gente que se arrumava entre a profusão de velas e círios cintilantes e, um pouco por todo o lado, nas casas de Lisboa, o fogo crepitava em lareiras e fogões, pois estava-se em Novembro e a hora do almoço era logo após as celebrações religiosas.
Pelas 9:40 h, depois de um estrondo subterrâneo, sentiu-se um impressionante abalo, um dos maiores de que há notícia histórica. Decorreu em 3 fases e durou cerca de 9 minutos. A segunda e terceira fase foram as mais violentas e longas lançando por terra a maioria dos edifícios que se abateram sobre as pessoas que em pânico fugiram para a rua. Imediatamente as ruas ficaram cheias de escombros e nuvens de poeira que transformaram o dia em noite, sufocando e desorientando os que procuravam salvar-se.
E entra logo em cena o segundo elemento da calamidade, o fogo que fez deflagrar incêndios em vários pontos da cidade e durante seis dias causou perdas humanas e materiais irreparáveis por toda a cidade Baixa, entre o Rossio e o Terreiro do Paço, S. Paulo, Ribeira, razando a Sé, Castelo e o Bairro Alto.
Por volta das onze horas, a terceira calamidade abate-se sobre Lisboa, inundada pelas vagas do tsunami gerado no abalo sísmico. Em três vagas e no espaço de quinze minutos as águas galgaram os cais e avançaram pela Baixa entre 300 a 400 metros, arrastando os que em busca de protecção se refugiaram junto ao Tejo, especialmente no bairro de S. Paulo e no Terreiro do Paço.
Segundo Moreira de Mendonça, testemunha ocular que percorreu a cidade após o terramoto, o fogo destruiu 1/3 da cidade e o terramoto mandou por terra 10% das casas, enquanto 2/3 ficaram inabitáveis. Cerca de dezassete mil casas colapsaram restando cerca de três mil com condições de habitabilidade.
Quanto ao número de vítimas, indica o mesmo autor dez mil mortos, cinco mil no próprio dia e cinco mil ao longo do mês de Novembro.
Assustada, a população fugiu para os campos onde se formaram grandes acampamentos de barracas, como os de Santa Clara e do Campo dos Mártires da Pátria (Campo do Curral). No próprio dia e nos seguintes já o poder Régio, com grande destaque de Sebastião José de Carvalho e Melo, enfrentava a inimaginável desgraça que se abatera sobre Lisboa.
*os dados demográficos mencionados reultam de cálculos de diversos autores, baseados em fontes históricas coevas.
SIMULAÇÃO DO TSUNAMI DE 1755 NA BAIXA LISBOETA




Bibliografia
Mendonça, Joachim Joseph Moreira de, Historia Universal dos Terremotos que tem havido no Mundo, de que ha noticia [...].Na Offic. de Antonio Vicente da Silva. 1758.
O Grande Terramoto De Lisboa. Lisboa: Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento ; Público, 2005. – 4 Vols.
Santos, A.; Correia. M.; Loureiro, C.; Fernandes, P.; Marques da Costa, N., The historical reconstruction of the 1755 earthquake and tsunami in downtown Lisbon, Portugal, J. Mar. Sci. Eng., 7, 208, 2019; doi:10.3390/jmse7070208