Demografia Histórica

Demografia Histórica

Estudo demográfico e genealógico da população lisboeta entre os séculos XVI e XVIII, a partir da reconstrução sistemática dos registos paroquiais e outras fontes históricas

A Câmara Municipal de Lisboa (CML), por intermédio do GEO – Núcleo de Demografia Histórica (DMC-DPC), desenvolve o projeto “Reconstituição de Paróquias e História da População de Lisboa: do Século XVI até ao Terramoto de 1755”, com a colaboração institucional e metodológica do grupo de investigação Pessoas, Mercados e Políticas, do CITCEM (Universidade do Porto), e do Centro de Estudos do Património Casa de Sarmento.

O trabalho desenvolvido reveste-se de uma dimensão significativa e de grande relevância para a valorização do património memorial da cidade, ao resgatar do passado a presença da população urbana — ou seja, todos aqueles que habitaram, nasceram, casaram e faleceram em Lisboa até meados do século XVIII —, contribuindo simultaneamente para o conhecimento científico e para a preservação da herança cultural.

A construção e manutenção de bases de dados demográficas e sociais da população de Lisboa, organizadas por freguesia histórica, reúne cerca de 500 mil registos biográficos. Este repositório resulta da informatização normalizada dos registos paroquiais da cidade e integra, ainda, informação genealógica complementar de elevado valor científico, recolhida de forma sistemática em diversos arquivos que conservam fontes históricas essenciais para o estudo das populações do passado — nomeadamente o Arquivo Histórico Municipal de Lisboa, a Torre do Tombo, o Arquivo do Patriarcado de Lisboa, o Arquivo da Marinha, entre outros.

No âmbito deste projeto, têm sido desenvolvidas diversas colaborações institucionais, entre as quais se destaca a digitalização integral dos microfilmes das paróquias de Lisboa, realizada em parceria com o Arquivo Nacional da Torre do Tombo – IANTT (Projeto [280.10.07-DGP/05]). Para além do interesse generalizado pela vertente genealógica, este acervo tem servido de base para o estudo da memória da cidade de Lisboa, refletido em eventos e publicações como Varinas de Lisboa, Lx-Conventos, Lisboa em Azulejos, Testemunhos da Escravatura, Terramoto de 1755, Necrópole do Convento de São Domingos de Lisboa, Tsunami de 1755 e Quotidianos e Ofícios da Lisboa Moderna.

As bases de dados estão alocadas no PORGENER - Portuguese Genealogical Repository

Reconstituição de Paróquias e História da População de Lisboa

A nossa principal missão é apreender a vivência das comunidades que habitaram Lisboa até ao Grande Terramoto de 1755, cujos ciclos de vida chegaram até nós através dos atos sacramentais registados nos livros paroquiais — um fundo documental de valor histórico inestimável para a preservação da memória coletiva.

Tendo como objetivo reunir, estudar e tornar acessível toda a informação contida nos registos paroquiais das 34 freguesias que compunham a Lisboa pré-pombalina, o projeto de reconstituição das paróquias lisboetas teve início em espaços emblemáticos da Lisboa Medieval e Moderna, selecionados pela sua implantação na malha urbana e pela elevada densidade populacional: Santa Cruz do Castelo, Santiago, Sé, Santa Catarina do Monte Sinai, Nossa Senhora das Mercês e Encarnação. O projeto alargou-se, posteriormente, às freguesias de Santa Engrácia, Pena e São Sebastião da Pedreira, zonas periféricas ao núcleo urbano, algumas de marcada feição rural.

A construção das bases de dados relacionais que integram o já vasto repositório documental de indivíduos genealogicamente encadeados resulta de um meticuloso processo de leitura e transcrição fiel das fontes originais. A análise e interpretação dos dados recolhidos permite-nos, em articulação com outras fontes históricas — de natureza civil, militar ou eclesiástica —, avançar na reconstituição possível das comunidades lisboetas nas suas diversas dimensões demográficas, sociais e históricas.

Deste modo, reunimos material de elevada qualidade para o desenvolvimento de projetos de investigação demográfica, quer no domínio da reconstituição de famílias, paróquias ou outras comunidades, quer na análise das suas principais variáveis, com o propósito de contribuir para um novo patamar na compreensão e estudo da História Social de Lisboa.

Como resultado deste trabalho moroso e meticuloso, encontram-se disponíveis para consulta pública as paróquias reconstituídas do Castelo, Santiago e Mercês, que, em conjunto, integram cerca de 80.000 indivíduos. Estes são testemunhos de vidas preservadas pela escrita dos párocos que acompanharam estas comunidades até ao fatídico ano de 1755.

Para consulta das freguesias reconstituídas:

Santiago

Castelo

Mercês

Profissões Urbanas e Tipos Sociais de Lisboa Antiga (séculos XVI-XIX)

A construção da memória viva da cidade faz-se de factos e de pessoas que por ela passaram. Estudamos o povo que viveu em Lisboa, todos os que integraram o tecido urbano, com o objetivo de compreender a sua representação social, e o trabalho e as ocupações: desde a produção e distribuição de bens aos serviços públicos, do poder à magistratura, da arte à estética, das margens sociais ao desvio — todos eles atores identitários da capital durante o Antigo Regime, entre os séculos XVI e XIX.

A investigação sobre as antigas profissões, artes e ofícios de Lisboa tem-se consolidado ao longo do tempo através do levantamento sistemático de fontes históricas primárias, tanto escritas como iconográficas. Este trabalho revela-se pertinente não apenas pela valorização do contributo das várias atividades profissionais no desenvolvimento social, económico e cultural da cidade, mas também pela preservação da memória de ofícios hoje desaparecidos.

Estudar os ofícios implica também analisar as instituições que os regulavam e disciplinavam: a Câmara da cidade, a Corte, mas também confrarias e irmandades, cuja intervenção se fazia sentir nos planos económico, político, social e religioso dos grupos laborais.

Neste contexto, desenvolvemos a rubrica “Memórias de Lisboa. Espaços, gentes e quotidianos – As antigas profissões, artes e ofícios de Lisboa nos séculos XVI a XIX”, onde já foram retratadas figuras como o aguadeiro, o correeiro, a peixeira/varina ou o boticário. Continuamos a dar a conhecer outros protagonistas da cidade, os produtos que fabricavam, os serviços que prestavam, as técnicas de produção já esquecidas e as formas de cuidado que praticavam — do corpo, da alma, da comunidade. Exploraremos ainda a organização do trabalho, as normas e leis que regiam os ofícios, os arruamentos profissionais medievais que subsistiram na Baixa lisboeta até ao Terramoto de 1755, e as formas como esses ofícios se reorganizaram após o cataclismo, redistribuindo-se pelo espaço urbano e adaptando-se à nova ordem da cidade.